Blog da Liz de Sá Cavalcante

A exigência da poesia

A poesia exige que eu não seja só quando escrevo, que seja nela tudo que sinto. A recusa da permanência do meu ser é exigência da poesia, quer que eu viva apenas nela, mas nela não se pode viver. Jamais viverei na poesia, sendo apenas sombra da poesia. A sombra da morte não me deixa ser sombra da poesia. As vivências precisam se unir à vida, mesmo sem palavras, que nunca seriam ditas, nem pela voz de Deus. O nada transforma a vida em algo melhor, por isso ele foi superado. A poesia nada significa para mim sem o nada da poesia, que me faz viver mais do que a poesia. A poesia não sente seu próprio nada, perde todo o significado. Eu fui o significado da poesia até o nada me substituir. Eu clareei o nada me anulando, fazendo dele o que não pude ser. Fui o significado das minhas perdas, que me fizeram ainda ser alguém para mim. Alguém que não posso ser em mim. Perdas são sonhos intraduzíveis, não faz parte da realidade isenta de sonhos. Traduzem-se os sonhos sem sonhar, concretizando o nada, onde não posso viver sem mim. Se a poesia não exigisse nada de mim, morreria num vazio sem fim, sem poesia, só, restou o esquecimento, de onde não despertarei, mesmo sendo eu esse despertar.