Blog da Liz de Sá Cavalcante

Saudade viva

Não há saudade se a saudade vive, dando fim à sua existência por viver. Viver, além da saudade, para não ser saudade de mim. Saudade é irreconhecível quando a sinto. Deixar-me na saudade não fará encontrar o vazio de mim, são vários sóis para iluminar esta alegria. O sol divide a vida em partes, para não existir vida antes e depois do sol. Para eu ser, não preciso ser o que tu és. O sol desaparece para eu existir. Existir é desaparecer. O sol existe, a iluminar o nada, que é o céu lembrado por mim. O nada é o céu sem definição, por isso absoluto. O céu nasce do céu, ganha uma definição, perde o absoluto. A saudade está viva, por se despedir do céu, como se despede de alguém. Me amou, apenas para a saudade partir? Amar é falta do sol. O calor do sol é humano. Escrever o nada, amar o nada sem partir. Fico abandonada, como o sol no sol, a se desmanchar, sem o céu. O céu se torna sol, agora é feliz, pois pode ser a continuação da vida. Vida, sucessão dos momentos perdidos, encontrados por serem sós. A saudade vive, sem os instantes perdidos, como um resto de luz no sol, a apagar a escuridão. Saudade, viva por mim, o que ainda se reconhece como vida, apesar do amanhecer.