A vida é a eternidade da morte. A morte não me deixa sufocar e deixa a porta aberta para quem quiser sair da morte. Sair da morte é ficar no nada, sem vida, morte, ilusões. Acabar com a voz da ausência é deixar a morte incompreendida, infeliz. Sem escutar a morte, não me escuto. Há muito a escutar, a fazer sem a morte, com a consciência de morte, que não me deixa morrer. A morte é o bastante, o excesso de ser, que se poupa com a vida. O excesso pode ser o nada, em busca de morrer. O mar não é a morte, é a infinidade da morte. O movimento do mundo é a morte, não se pode parar de morrer como se para de viver. Viver é morrer. A falta de movimento define o movimento. A alma não faz nenhum movimento, flui mais do que o corpo. O meu corpo não pode se sentir, pois está vivo, na minha morte, sentirei meu corpo, minha alma, serei feliz na realidade do meu corpo, não é minha realidade. Acreditar na vida é tornar a eternidade vazia, pela existência das lágrimas. Comunicar com lágrimas, o que não posso sentir, é o nascer do nada, que investe sua falta no amor. Falar sem sentir é comunicar ao céu que posso sentir, mesmo com a alma vazia. Amar, dizer adeus ao que sou no amor, é o recomeço de mim. Eternidade, onde estava quando morri? “Estava no recomeço de mim.” E o meu recomeço, não importa? “Importa”, diz a eternidade e continua: “Importa tanto, que eu, eternidade, não posso recomeçar por você, pois você importa para mim mais do que minha eternidade. Amo apenas por você, Liz. Vivo por você, Liz.”