Alegria, te dei a minha vida e não pude morrer contigo. Como posso ficar como uma rocha e ir tão depressa quanto o mar? Teria sido eu a ingrata? Ficaste feliz com minha dor, não percebi que era teu jeito de sobreviver. Para mim, tanto faz, ser triste ou alegre, morrer emocionalmente ou viver emocionalmente, não me sinto eu. Alegria, me deste alegria, eu não quis nada que viesse de ti, não acredito que existes, que é possível ser feliz. Não há nada para ser, mas sou. Sou como se me percebesse. Não há nada a se perceber em mim, mas existo pela falta de ser percebida, que é a minha percepção. Meu olhar se transforma em sentir, meu sentir se torna vida. Então, não morri? Mas, o que sou para a vida do meu sentir? Serei a vida do sentir? A sombra do corpo não é a morte. A morte é a falta que o corpo faz, sendo a morte. Eu sou a morte do meu corpo, influenciada pela morte. A vida mata da mesma forma que ama. Estou encantada com a ausência de alma, é como resgatar a vida sem nenhum artifício, sem lhe dar nada em troca. Dei tudo à vida na forma de poesia, somente assim posso retribuir tanto amor. Seu amor é a certeza de que morri.