Liberta teu amor do nada, quem sabe, assim, há consciência de ti. A falta é a ausência do nada. Não sentir apenas o amor, me sentir quando amo. Sentir o amor por inteiro é aceitar o nada nessa plenitude de amar. A falta é o nada, mais inteiro em mim do que o amor. A ausência do nada é o nada invadindo meu corpo, minha alma, minha tristeza. Amei meu ser inteiro no nada. Nada seria sem o nada. O acalento do nada modificou a minha vida. O ser inteiro é menos da metade do ser. A ausência sem faltas é a consciência do ser. Nada falta na ausência, na presença tudo me falta. A respiração tem que vir da minha presença, mesmo sem ela ser a minha vida. Não há estrutura na morte para erguer o meu ser, há apenas o céu. O céu mantém meu ser, sem pensar na minha morte. O quando da minha morte não é o céu: é a certeza de me imaginar viva, quando já morri, sem o quando da morte. A morte não quer saber por que morri, quer que minha reação de morrer seja minha única morte. Tentei viver mais ainda, mas o impossível se fez em mim, como coragem pra morrer. A morte escorrega, desaba no meu amor. O olhar sem tristeza é minha maneira de morrer na minha dor. Sem me ver morrer, a morte está incompleta. Tenho medo da minha alegria em morrer. O céu é uma alegria que morre, o ser é uma alegria que morre. Apenas a morte é uma alegria viva. A falta é a consciência do amor, numa inconsciência que é mais amor do que amor: é a saudade de viver tanto quanto amo.