No começo era apenas triste, mas morreu a liberdade nos meus abraços. Não sei se a amei, mas gostava de abraçar a liberdade, como se assim eu fosse livre. Nem mesmo a liberdade é livre. O ser não é livre para pensar, o ser não pensa, é livre na sua falta de liberdade. Vivi não por mim, vivi pelo que existe. Existo apenas na existência dos outros, não na minha própria existência. Nenhum sentimento vale a vida do ser. O ser é o cessar do sentimento. O sentir não se faz amar. Trai o sentir com minha ausência. Não posso amar ausente. Se eu estiver ausente, é por me importar comigo. Amo sem sentir, amo melhor ausente, como o sol que se precipita no amanhecer. Amor, seja um sentimento, ou apenas uma brisa de amor, fique o suficiente para que eu sinta sua existência, mesmo sem senti-lo em mim. A liberdade não fala, não age, apenas ama. Quem ama existe sem agir, apenas é, sem perceber que existe. Perceber é deixar de amar. Cortei a vida em meus pedaços, agora somos uma só, neste sempre que nos separa, neste inseparável amor, vazio, sem a paz de te perder. Perdi minha paz na paz de te ver. Até sua imagem foge de mim, mas, com ou sem imagem, não me vejo em você, para me ver em mim. Me ver não me faz sobreviver à tua ausência, ao que penso amar, ser, sentir. Apenas consiga me amar. Se a vida for a vida do céu, é porque não te perdi. Nunca seremos uma só, talvez eu nunca possa te amar, mas ao menos te sentir, como sinto a liberdade de te perder.