Blog da Liz de Sá Cavalcante

Angústia tranquila

Sentir-me em sentir, numa angústia tranquila, sem adeus, nem despedida, apenas o fim a resplandecer em mim. Me expor a mim, sinto melhor o fim, expor a mim é ser o fim do fim, num fim eterno. A angústia aproxima o fim, da realidade de morrer, que é te vê, tristeza. A dor é eterna, e o ser toma conta da eternidade da dor. Respirar é a eternidade da dor, que me faz sorrir na eternidade da dor. Vale a pena sorrir para sofrer. Alegria e dor se misturam, onde nasce o amor. O amor tranquiliza a angústia da sua tranquilidade. Se o amor é imaginação, afeta a angústia. A angústia é feliz, se conforta em angustiar. Saber que a angústia existe me tira da solidão, embora ela não seja minha. O sonho é uma angústia triste. A vida não precisa ser vida para se angustiar. É melhor angustiar numa paisagem, noutro ser, do que me angustiar no vazio, que é morrer. A angústia é um outro mundo, desconhecido, chamo-o de ser. O ser é uma prisão, onde tudo é livre, como se não estivesse numa prisão. A angústia não tem para onde ir, mas não fica quieta, nesse lugar nenhum. Não dá para iludir a angústia, que ela vai sair de si sem morrer. A angústia é melhor do que não se angustiar, sem perceber que a vida existe, por isso nada me impede de me angustiar, de ser feliz. O tempo é uma angústia, distante angústia, onde não sinto o tempo, sinto apenas essa angústia em mim. A falta de angústia me comove. É triste, desesperador não se angustiar. O para sempre é morrer, não tem angústia. Me angustiar é falar com alma, com amor, sem precisar da poesia para falar. Ninguém pode ser o nada do que resta do mundo, apenas a angústia pode salvar o mundo da dor. Não me sinto, para não destruir a angústia, para que a vida se torne infinita, como o amor infinito da angústia. Morrer sem angústia é me enterrar sem mim.