Blog da Liz de Sá Cavalcante

Cobrindo-me de lágrimas

Expus a mim me cobrindo. Cobrindo-me de lágrimas, para proteger meu corpo da morte, onde não há vestígios de adeus. É tanto adeus, que é preciso voltar à realidade da vida, para morrer. Cobrindo-me de lágrimas, meu corpo é o amor infinito da alma. A alma não é a falta do corpo, é ter um corpo na alma. A falta da alma no corpo é a vida a acontecer pelo corpo, ou pela alma, a vida é grata por existir em mim, é mais essencial que existir apenas por si. As lágrimas cobrem o meu corpo, nunca a alma. A lágrima é onde o silêncio é incompreendido. O silêncio não pode ser apenas lágrimas. Apenas a pele não sente minha ausência, a pele é minha única presença em mim. Não há presença além da pele do teu respirar, do meu abandono pela presença da pele, despossuída do corpo. Corpo não é pele. Pele são as sensações do ser, distante do corpo. O ser nega as sensações do ser, mas não nega que esse ser sou eu. Incorporo a falta de um corpo, como sendo um pedaço de mim que me vê de longe, no que já se foi, por isso amanhece em mim. Na falta de sonhos, escrevo. Transcender é melhor do que sonhar. Os vestígios da morte escondem o corpo da falta de corpo. Assim a alma se rasga, sem morte, sem dor, pela presença eterna da alegria.