Como posso querer algo mais do que ter alma? A alma não me ensina quem sou, mas me faz me sentir exterior a mim. A alma não se tornou alma como certeza de si, de que é seguro ser alma. A sinceridade é uma dor, um abismo sem fim. Quando sonhava meus sonhos, eu não mais existia, mas sonhar comigo é melhor que existir. Vida, eu sonhava teus sonhos sem ti. O fim não é conquista da alma, é conquista apenas do fim. O fim é a certeza de não morrer. Vivo pela morte. Vida, a única lembrança que tenho de ti é minha alma, meu ser é apenas onde te esqueço. O medo de a alma me perder, sou eu a viver. O deslizar da alma se perde em viver. Meu ser me ensina a ser, sem mim. Tudo perdi em ser. O nada é algo que foi perdido dentro de outro ser, que é apenas eu. Existo apenas no vazio de mim, que não se importa com o que sonho, mas, sim, se eu sonho. Aprofundar o nada não é sonhar. Sonhar é deixar de ser eu, ser apenas um ser, que existe por mim, que devia ser eu, não estou ausente, sou apenas eu, sem ausências. A ausência é outro ser em mim. Apenas a ausência me desperta. Mesmo assim, sou um despertar sem ausências. A alegria é ausência da alma. Tudo na ausência é verdadeiro. A ausência é recuperar o tempo. Não há tempo na presença. A única coisa verdadeira na presença é a ausência. Nem a presença, nem a ausência, é o ser. Ser é ser apenas livre, sem ausência, sem presença. Talvez, nem a vida seja presença de nada. Não existe presença, nem mesmo na morte. O nada é a presença de alguém, mas não é presença da presença. Não é preciso ir longe para ter uma presença. A presença está em todo lugar, por isso não existe. É fácil existir sem a presença. Se a presença se tornar ausência, não há mais vida. A reconciliação com o nada não faz a vida existir. A existência não é a vida, não é o ser. A existência é mais pura que o ar. O ar supre a existência que faltava em mim.