Apenas a alma pode unir um ser noutro ser. Recobrar a consciência na alma, para existir plenamente no nada, no vazio do abismo, entre mim e a alma, para que eu volte a sorrir, no antes, no depois, no agora, é o mesmo tempo perdido, entre mim e a alma. A solidão não vive, é contemplação. Todo amor que tenho pela alma torna-se o esquecimento da alma. A beleza sem rosto faz que não haja ser, tudo são apenas rostos. Apenas o não parecer se parece com o parecer. O parecer devolve o nada ao nada. A alma muda, sem se transformar. O amor aniquila, não evolui. Cresce a ausência do amor em mim. A consciência torna-se ausente da ausência. A ausência é o único bem que meu ser possui. Possui como algo perdido, sem o infinito. No infinito do nada, encontrei o infinito de tudo. Estou esperando nascer o finito do infinito. O que posso ser para a minha poesia? O fim de sua dor na minha dor. O infinito sofre mais que o finito. Penso no infinito, mas não penso pelo fim, pois fui revirada pelo fim. Se eu amar o infinito, poderei me amar? Pensar pelo infinito é dar razão ao nada. Esse momento de alma não é de viver, é de transcender, como se ir além de mim fosse explicação para minha morte, que foi apenas este além de mim. Nada explica a explicação, nem mesmo o amor. O amor se fará destino da ausência de vida. Se não existe alma, existe destino, que me separa do que sou, mesmo sem alma.