É preciso deixar a alma correr solta, livre, no ninguém de si mesma, para o ninguém da vida. O nada perde a razão em amar. O ninguém não se desfaz em alguém. O sorrir é a certeza de não existir alguém para o ninguém. Posso fazer da poesia o que a vida não levou da eternidade. Eternidade vem, parte, mas a dor é a mesma. O nada é alguém que não percebe a presença de ninguém. O ninguém é o desejo infinito de ser, onde nada se aproxima. Apenas este ninguém aparece na inconstância de nada sentir. Eu refleti a luz, onde o ninguém que amo é a minha ausência, na presença do meu saber. A luz se apaga sem refletir, pois nenhum alguém, nenhum ninguém, existe mais. Mas, se vê no indefinido de se viver simbolicamente, como poeira no deserto. O indefinido tira-me do deserto da alma, torna meus sonhos amor. Minha inexistência é o sonho, a presença do nada, que tornou o sonho morte, nem por isso modificou minha inexistência em morte. Ninguém, ninguém sopra o vazio do ar, do amor. Ninguém espera existir, não há mais nada nem ninguém, por isso a alegria ama nela mesma, por isso é infinita, distante da vida, da plenitude. As palavras tristes, na ausência de alegria, me resgataram para eu nada ser. Nada preciso ser para a alegria me preencher da sua luz, que ilumina o céu de tristeza. Tudo se tornou desolador, como se a tristeza desmaiasse em minha dor. Tudo estagnou, foi pior do que cessar de novo: sei agora que a vida é possível, mas não sei como fazê-la acontecer. A amei em palavras, sem palavras, apenas para que este ninguém seja o meu amor. Foi assim que morri, da ausência da falta de viver. Nesse instante, o silêncio me banhou de amor. Morri, não vejo mais corpo em mim, sinto apenas amor, na certeza de que vivi um dia. Conheci todos, e ninguém para amar. Estou cansada de amar, nem as palavras me fazem amar. A vida foi a minha morte. Não amei por mim, amei por todos. Agora, não sou mais nada, nem sou ninguém, sou algo perdido no ar, que consolará as estrelas da imensidão do céu.