Não me deixe só, pois a dor já tem a minha alma. Comece a me amar sem alma, vida, para não estarmos sozinhas. É tão fácil esquecer pela alma o que sou. Meu ser vive do amor que morre nele, como uma canção sem direção, perdida no vento da tua voz. O fim distante, como se levasse minhas lágrimas por dentro de mim. A distância une o amor com o nada. Somente veria o nada, se ele fosse a distância do real, onde meu ser e minha alma me pertencem, como uma realidade irrealizável, somente a sinto pelo sol. A irrealidade é um sol que dura, que refaz o ser nele mesmo. Nada vivi de real, mas não posso dizer que não vivi, que o despertar do sol é uma vida distante da vida, onde consigo me amar. A alma vive o adormecido, nos sonhos de ser. O sonho se torna apenas luz. Não sei que conselho dar à vida, mas quero que ela me deixe errar, acertar, no que sou para ela, para amar eternamente, sendo a vida eternamente, não me faz menos triste. A vida que pousa em meus braços, me libertando do nada do pensamento. O pensamento fere a vida, a aniquila, a devora. A vida, machucada, não é triste como o sol, que nada o fere, nada o detém de amanhecer. Mesmo que não seja a poesia que o faça surgir. Ele amanhece, na ausência do amanhecer. Me desligo da vida, como se eu fosse o sol. A ternura disfarçada de sol é a vida em morrer nela mesma, não pelos outros. A vida conhece meus pensamentos pela dor, não pelo meu ser. O esclarecimento é a única dúvida do céu. Nenhum conselho tem o amor em mim. Escrever é tornar o acontecer real, pelo amor eterno, que me faz escrever mais do que a mim mesma, é pela alma que escrevo. Nenhuma atitude gera vida. A vida nasce do amor, da alegria de pertencer ao passado. Tudo passa, sem o passado. É no passado que existo em minha morte. Resta a esperança, sem depois, para que o silêncio se torne amor. Não me lembro do amor, me lembro quando o perdi: foi uma memória rasa, que não afunda na profundidade. O passado é o depois, que nunca houve. O passado não é um acontecimento, é ausência de amor, falta de amor. O que nunca sentirei será sentido por alguém. É isto que me torna especial: estar noutro alguém, ainda sendo eu. Nada se permite crescer em sonhos, onde a realidade é nunca crescer. A falta é uma ausência, que não se repudia por amá-la. Ninguém merece o amor, mesmo ele sendo apenas falta de ser. Apenas o amor pode me faltar, para eu sofrer em paz, sem a súplica da tua dor, que é mais do que o universo, sou eu ao morrer em ti, onde o hoje existe, sem separação do passado, apenas a coragem de ser feliz, com o passado. O passado nunca parte. Não necessito do teu silêncio, tenho as minhas palavras, a minha voz, para ouvir. Ouvir é jamais me esquecer, dentro de um sentimento qualquer, que me faça viver.