A morte nunca se afasta, está junto, perto. A morte é o que há de mais vivo em mim. A essência da verdade desaba no nada do saber. Quero tocar o intocável, para o meu corpo sem vida, que não sente, mas sinto nele a vida que ele perdeu por me sentir. Somos dois, sem nada sentir, rumo ao infinito perdido dos sonhos. Sou sonhável em mim, sou o sonho da poesia. No sonho da poesia, não há alma. O sonho, a alma, é a poesia. No sonho, troco de alma, tenho tantas almas e nenhuma poesia. A poesia é o fim da alma. O nascer nasce do nascer. Tantas mortes sem mim, por isso faço parte da morte, é pior do que morrer. No fundo da alma, a morte não existe mais. É muito pior o silêncio, que esconde a alma do mundo. A alma do silêncio é vazia, como se não existisse a fala, e eu me comunicasse apenas com o vento. Não dá para esconder o silêncio no tempo que se foi. Não dá para falar sobre as palavras, por isso a vida diminui, pelas palavras não ditas, que são apenas palavras. Há esperança de viver ou morrer.