Eu não sei que o sonho sonha, mas, quando ele me ama, somente pode estar sonhando! O sonho do sonho é a alma! O sonho, para o sonho, é o ser, onde o sonhar nunca é alma! Há lacunas que foram preenchidas pela dor. A morte é continuação da vida, deixa a consciência emergir do nada, da memória, como um sonho vivido. Não dá para afastar a presença do sonho, seria como a vida sem a morte! Mas a vida já é sem a morte. Tudo se resolve vivendo ou morrendo, mas quero que a solução seja do seu lado. Carícias da alma não substituem o tempo, o abandono, a morte! O sonho substitui carícias na alma! Eu vivi a alma em mim! Eu a incorporo! A vida é o único tempo que tenho em mim. Somente apareço para o aparecer, que não é ninguém, mas é o aparecer como vida, adeus! Consumindo minha morte, eu sou tudo pra morte! Ter alegria é morrer, ser triste é morrer! Alma, foste a única alma no meu abandono. Foste minha alma, dor. O caderno não traz as horas, faz elas partirem pelo amor sem fim, do instante em que o caderno era a única expectativa de amor! Não sinto meu corpo, mas sinto as mãos quando escrevo, e é como se elas fossem todo o meu corpo! Minha lembrança eterna do primeiro tremor ao sofrer. Amor é proibido, é a ausência da tua presença, que não pode ser a minha vida! A alma lacrada num caderno, como um amor refeito em segredos. Não consigo abrir o caderno, imaginar que existe por dentro de mim, já que não existe em mim! Não falta sentimento no silêncio do caderno, me confunde com o amor do tempo em que não escrevia. Mas amava espontaneamente, sem pensar em sofrer, eu era feliz, sem escrever; agora, sou feliz apenas ao escrever! É como um sol repleto de luz, que aconchega a alma! O amor desaparece pela ausência que dá nome à vida, a faz existir! Deixo os cadernos viajarem na minha inexistência. Caderno, não seja eu, agora que quero abolir a dor, que é só minha. Mas o que é meu não pode sair de mim, apenas porque te vi, vida, mesmo assim, você não está em meu olhar, não é o meu olhar! Pobre vida, coitada, sacrificou por mim o meu amor, então se sente culpada, triste. Tudo vive sem a vida, mas a vida não vive sem a vida! Por isso, o sonho do sonho deixou a vida viva, seja em sonhos, seja na verdade da essência, seja na realidade, é a mesma vida, o mesmo amor a me despertar todos os dias, para que eu continue a sonhar! Minha consciência é o que restou do sonho, mas a vida não quer ser consciência de nada, quer ser apenas sonhos, onde não sente o que perdeu como perdido, sente como um sonho, que mantém os vivos e os mortos unidos, eternamente pelo amor! O que é do amor ninguém separa.