Sentimentos voam no desaparecer. Sentimentos alheios ou meus são lembranças do que não existe, podem existir pela falta do sentimento. O desaparecer aparece no sentimento. O amor existe sem corpo, alma, sem o ser. Foi tão bom não desaparecer, é como existir algo dentro de mim, por onde desaparecer. O desaparecer, presença íntima, de onde a aparência é este desaparecer. O desaparecer se escreve só, poesia da alma, que não desaparece no amor! Poesia é o desaparecer, expressado em palavras. A palavra não tem noção de exprimir o desaparecer. É como se o desaparecer pudesse ser o real. A falta de desaparecer é sem palavras. A palavra dura sem eternidade, a eternidade é o que sou dentro da palavra. Não importa a morte, se posso morrer de palavras. A palavra é um obstáculo para ser, onde sou ainda melhor do que sempre fui, pois, agora, a palavra, para mim, é o amor que sinto. Não há amor sem palavras, assim como não existo sem a vida. Falta vida no amanhecer, eu, sem mim, sou a vida do amanhecer, no silêncio absoluto que absorve a palavra sem pensá-la. Nada do que penso está em palavras, palavra que ficou no ar, na ausência absoluta do amor. O amor que pensei amar são palavras inconclusas, que emudecem a vida. O real é o desconhecido, é a fala da vida. Apenas a vida pode falar por si, somente ela compreende as palavras, naquilo que se pode dizer. Mas, nada posso dizer de mim, que seja palavra. Então, emudeço, com a minha mudez, ensurdeço a vida, a eternidade, as palavras, mas esse abismo nunca foi vida, por isso estou só, como se acabasse de nascer, em vez de eu nascer, a palavra nasceu por mim.