Blog da Liz de Sá Cavalcante

Me escapa

Me escapa, não por as coisas serem pequenas, mas por serem grandes demais para a imensidão do meu ser. Tiramos o nada um dos outros, pois não há vida. O nada é o valor da vida. Sinto o nada, como se o nada me fizesse ser o sentir do nada como nada, e não me sentir feliz. Ainda sinto falta do nada em minha vida, inexistente, nos meus sonhos inexistentes, mais repleto de nada do que o amor do nada. Recorrer a ti, saudade, no que permanece. A permanência é infiel à saudade. Tu, alegria, és a única saudade que me restou. Nem as cinzas da saudade te fizeram saudade, te deram vida, alegria, alegria, não foste a alegria de ninguém. Mas me escapa a alegria, ficando a alegria em mim. Tudo escapa na alegria, menos a alegria. A alegria é como se fosse a vida que nunca existe, eu vivi a alegria, com ela morta, ela sorriu: isto para mim é a vida: ver a alegria morrer sorrindo. Tudo foi feliz sem a presença da alegria, pois os seus momentos foram eternos no meu amor. Pode não ter sido viver, mas também não é nada, é algo mais essencial que viver: é alegria de me dar, sem amor, vida, sem alegria. A lembrança da minha alegria foi apenas o respirar eterno da ausência de Deus. Vou trazer Deus de volta ao mundo, mostrar que a humanidade pode ser melhor, a vida pode ser melhor, a vida pode ser melhor, a eternidade pode ser melhor, a alegria pode ser melhor. Eu posso ser ainda mais feliz, se essa alegria resgata a vida num mar de saudade. Nada me escapa, apenas eu escapo de mim, nessa alegria, onde não sei se é dia ou noite, se vou morrer ou viver.