A alma não teme meu ser, nem a profundidade. Ela vai sugando a profundidade que agora não é apenas ser, é alma. O corpo é o declínio da alma, de tudo o que sei da alma. Desconheço a alma no meu corpo, ou será a alma o corpo a pesar no meu corpo? Tão pesado meu corpo fica na alma que flutua, esquecendo toda a alma, toda a dificuldade em amar. Para você, vida, sou só um corpo velho, cansado; para mim, sou mais que um corpo, pois ainda tenho forças para amar. Cega da alma, mesmo assim vejo sua luz, a ofuscar o meu sentir. Não há dor que suporte a alma, a alma não teme a dor. Não sei o que é da vida e o que é da alma, mas sei que alma e vida se encontram em viver. A alma me diz como amar, como viver nela, pois me ensina a ser alma. Existe para que eu saia dela, sem ficar em mim. Em mim, eu pensei que a alma seria eterna, mas a eternidade é sem alma. A morte afunda o abismo em que me coloquei. Não há nada que substitua a morte, que saia de dentro de mim sem morrer. O corpo pode continuar sem alma, para que eu possa morrer, liberta como uma flor, a desabrochar sem atenção de suas pétalas. O corpo deixa de ser, para amar, se comunicar com a alma, e perceber que ainda existe alma no amor.