Blog da Liz de Sá Cavalcante

Dor devastadora

Não posso dar a impressão de morrer, sem morrer. Quando meu ser não se veste de sonho, mas se fantasia de sonho, é porque não há mais sonho, há apenas certezas vazias. Somente me falta morrer, que minha morte não traia o meu morrer! Penetrei na minha pele, tornei-me apenas pele. As flores dão vida à vida pelo resto que restou em mim, é o que faz a falta da saudade de viver, mas eu não sou saudade de viver: sou vida que perfuma a flor, que torna a beleza rara. O que esqueci na rosa lembrei no amor. Lágrimas me preocupam mais do que a própria preocupação. O sufocar é um respirar eterno que detém as lágrimas de si mesmas. Por trás dos seus olhos, a vida, o céu, o infinito, que não são vistos como se devem: como um olhar perdido, que me encontra em minhas lágrimas não no meu ser, que me faz morrer. Morri para saber se posso chorar minha morte, como chorei com a vida. O olhar distorce a realidade, num real qualquer. O real é a sombra do olhar, o irreal é o sol do olhar. Um tempo para chorar não é sofrer. Sofrer é abandonar a dor, como se abandonasse alguém! É um parto sofrer algo, precisa sair de dentro da dor, nem que não seja eu, seja apenas o sofrer! A saliva é uma maneira de respirar só, mas respirar é a saliva, onde engulo apenas solidão! Estou perto demais de mim, para ficar comigo. Neste distanciar, a alma não veio a mim para ser meu pertencimento, tornou-se minha vida. Somente aí percebi que a vida me ama, ao menos por dentro de mim não cedi à vida. Me adaptei à vida até poder amá-la como amo!