Pela falta de Deus na alma, o ser existe. A alma renuncia o ser, como se ela fosse a realidade de Deus, é apenas um dos vários sentimentos de Deus. Mas Deus sente algo por si mesmo? A alma sem Deus é o vazio. Deus não cessa dúvidas, torna as dúvidas eternas. As dúvidas são a eternidade de Deus, sem Deus. Apenas nossas dúvidas são Deus, mas não sinto minha dúvida: ser Deus em sua sinceridade. O torpor da alma é Deus, na presença de Deus. Meu ser em Deus é o que ainda existe em mim. Mas não posso viver apenas da presença de Deus. Deus é o sono. Mas, em algum momento, terei que despertar, para ensinar as pessoas a cuidarem do mundo. Como cuidar do mundo, se não sei o que é mundo? Cuido, sem me notar. A alma percebe o mundo, mas não cuida dele. Meu ser não deixa minha presença na vida, no ser. Confio apenas em Deus para ser minha presença. Deus é a transparência descoberta, escondida dentro de si mesma. As coisas são decididas sem amor, por isto existe Deus: para decidir pelas coisas, pelo ser. As coisas do mundo são do ser, a decisão sobre elas não depende do ser. Minha alma é o mundo. O que fazer no mundo, se o amo como se fosse a vida que não possuo? Nem pelo mundo, nem por mim tenho vida. Quero que os momentos sem vida sejam minha melhor e única lembrança. É a vida que me faz sentir só, ela lembra o que não posso viver, por já estar vivendo. O inesquecível torna-se esquecido por pensar. A ausência do mundo é amor. Pela ausência do mundo, sinto o mundo, é como se nada tivesse exterior a mim, como se tudo coubesse dentro de mim, pela interioridade do meu ser. Mas meu ser não está dentro de mim, se perdeu no mundo! Que mundo é esse que deixa eu me perder, para que nada fique perdido por sonhar? O sonho recupera as lembranças, o ser. Mas o meu ser não vive nas lembranças, é real, não precisa de lembranças, precisa de amor. O amor não é uma lembrança, é o agir, sem lembrança. A falta de lembrança me entristece: não quero amar, sem me lembrar do amor. Não preciso de um mundo para viver, preciso apenas de amor.