Busco a infância da minha ausência. A vida, com todas as suas ausências, é presença eterna em mim! Se eu não tivesse tido uma infância, não teria ausências. A ausência da criança que fui é a forma como abraço a vida! A essência, fim do amor, é a ausência, é a única a agir sem ausências! Leio a alma da ausência, na minha presença. O amanhecer é a ausência de ser! A ausência inesperada do retorno da ausência. É como possuir o mundo, a vida, pelas ausências. Ausências de uma vida inteira, que foi lembrada sem a vida! Não amo o que a vida me dá, amo o que me dou, sem expectativa de vida. Um dar que termina em ausências. Ausência é penetrar no mundo, sem o mundo, onde o mundo é a vida, sem ausências, sem as tuas desculpas vazias, de onde nasce a minha ausência! Deus é a ausência da presença, como a falta de luz no olhar da presença aflita! Mas a aflição comanda a luz feito alma. Desata a vida num único suspirar! Busco significado para a ausência. Seu significado é o meu sorrir. Meu sorrir explica e justifica a ausência. A ausência é sem equívocos. Posso escolher o que quero viver de ausências. Ausência traz o ser para dentro do ser. O interior do ser é interior ao ser. O que nasce do ser é apenas a realidade sem o ser, que se acostumou a nascer de ausências! A ausência precisa de mais ausências, sem nunca chegar a presença. Para que quero a presença, se posso ser ausente? A ausência é reconciliação comigo! A ausência é sagrada. Nela Deus está! O valor se perde sem perdas, ausências. A ausência é irracional, por isso ela tem a inteligência da vida. Será que o amor da vida é mais essencial que a existência do meu ser? A ausência é o alimento da alma. Se a alma da minha ausência fosse minha alegria, não seria feliz por ter alma. Alegria é a presença da alma na minha ausência. Custou até a alma me aceitar. Essa aceitação é o nada da vida! A alma me torna concreta. De ausência em ausência, vou deixando-me viver. A alma é incomunicável. Apenas a essência se comunica com a alma, numa ausência absoluta de você! A ausência não acontece, se essencializa. Com minha essência ausência. Minha ausência é sua essência. Temos uma única essência, mas somos diferentes. Minha ausência é de mundo, companhia; a sua ausência não vem do mundo. É sagrada como a lembrança tão ausente de mim, que sou eu! A lembrança não consegue que a ausência permaneça em mim! Se não lembro de ser feliz, viverei como a minha ausência, mendigando solidão, revirando o céu para saber o que fiz da minha alegria! Ela se tornou o esquecer da ausência, mas isso não me tornou feliz. Quero sentir que a ausência é humana, que ela me deixe sofrer o que tanto desejo. Mas não sofro pela ausência. Ela é apena solidão. Solidão que me desperta ao mundo do desconhecido. Chamo-o de eu. Eu no desconhecido de mim, onde faço parte da descoberta de viver. Tudo começou como um amor que cresceu, se expandiu, tornou-se vida, que não existia como ausência. Ela ausente por mim, em mim. Amei para conquistar a ausência, como se houvesse motivos na ausência para deixar de amar! O amor aceita as ausências, como o que falta no amor para o amor surgir pela ausência de depois! Depois do amor, a ausência desaparece. Ela somente me queria livre para amar. Agora, toda essa liberdade de amar devo à ausência. A ausência me impediu de morrer. Não sou só, sou ausente de mim. Ninguém me fará aceitar voluntariamente minha ausência. Não preciso dos estímulos que me ausentam do corpo. Parece que morri! Mas é apenas ausência num fim que não pertence. Pertence a Deus a ausência, a vida. Mas o fim não se pertence. Eu torno o fim infinito em apenas dizer amor!