Minha vida não é a última vida em mim. Nessa vida abismal, a fala muda é o resto do abismo como sol, sendo o comunicar eterno de morrer que vive em mim. A falta de dizer não é a eternidade do silêncio, é a eternidade entre mim e eu. A eternidade é o horizonte da fala no fim do abismo. Vi o céu na minha dor, é como me decompor em céu, apenas em não sofrer a dor não tem alma, mas tem o céu à sua disposição. Não adianta não sofrer, pois eu ainda sou eu! A vida não é real.
Sua realidade veio do infinito, que somos nós, mais do que o infinito, necessito amor. Se o infinito é amado, e eu não, o que ainda é amor? É apenas o infinito alcançável de ser que não é acessível quando ama. Eu vivi o amor, sem o infinito, vivi o amor pelas pessoas, que é mais infinito ainda: é como ter olhos, alma, ser, espírito, para amar. Deus é amor, se o aceitamos em nosso amor, mas meu amor não pode existir. Sem Deus na alma, nada pertence a nada, foi longe deste pertencer que encontrei Deus.
O nada pertencer é tão forte que vejo a alma de Deus. Os abraços esquecidos no amor são o livre chorar de Deus, abençoando a minha solidão, a separação da alma e do corpo, é a vida por mim, nada faz falta à solidão, ela apenas necessita de amor como eu! Pensava ter teus sonhos em mim, mas é como se fosse a última estrela do céu. Eu não vou mudar, nem mesmo que a vida se torne morte. Falta nos sonhos o meu ser, o nada não significa nada, é o que falta nos meus sonhos, para eles serem felizes: fingir que nada existe, como o sonho não existe. Eu confio no nada, mais do que em mim. Como posso ser nada até para o nada?
As lembranças permanecem no nada do ser, tudo que chora consola o tempo, por ele não partir, o consolo, às vezes, é partir na ausência. O silêncio não tem culpa da minha ausência, ela podia existir em palavras. Depende de mim dar um sentido a essa ausência, ela pode ser a poesia de amanhã, mas agora quero ser presença, ao menos nas minhas poesias, que, mesmo ausente, consigo sentir a poesia, e criar em cada poesia. A minha vida, por mais ausente que seja, é feliz. Como a poesia tem alma, a ausência como permanência da poesia no ser, tudo é eterno. Na alma, nada é eterno, pois é sem fim. Me desdobro tentando compreender por que a poesia tem um fim, mas a poesia continua dentro de mim, como se fosse você em mim.
O tempo se foi, a vida se foi, continuo a sentir a poesia na minha dor, na morte, na vida que se foi sem partir! O abismo existe mesmo, eu me renuncio, mas continuo a amar, seja ou não no abismo de mim. Apenas o amor substitui toda realidade, até a realidade da falta de amor que não perde o valor da poesia, apenas fica triste em eu sonhar, ser, existir. Consigo ser apenas poesia, pois tudo piora, ninguém mais suporta ser só, nem pela poesia, nem pela vida, nem pela morte, enfim, eu!