Blog da Liz de Sá Cavalcante

O nada não é nada

Sorrir o despedaçar de um sorriso, que é mais do que o infinito, é o que consigo sentir por a vida desaparecer como um abraço, sombra desse desaparecer, que não desaparece sem desaparecer a lembrança! É um desaparecer dentro da aparência, onde o possível alcança a realidade! Morrer no único momento de vida é unir a vida à vida, em separar a vida da vida! Não sei mais o que é união ou o que é separação na vida, sei que estou em mim, como se houvesse vida! O nada não é nada, é o que a vida necessita para viver! O nada é a aparência da vida! O nada não mantém o amor no amor. O que torna o amor eterno é o nada do eterno em mim. A aparência pode ser a eternidade do amor! Será que sou apenas o que vejo? E se o que vejo não sou eu?! Ser só é sonhar comigo mesma. Deveríamos lutar pelo nada em nós mesmos! Não querer o nada do outro, nunca será o meu nada, é apenas a permanência do céu, quando o vejo! Até conseguir olhar o céu pelo céu, o nada nunca é o nada com que se olha! O que determina o ser é o nada! O ser jamais pode se esconder no nada de si mesmo. Basta haver o nada, para não haver o conflito! O que vejo, esqueço fácil, o que não vejo é inesquecível, transparente, comum aos olhos! O olhar também sonha, vê seus sonhos como um pedaço de mim! Nem eu conheço meus sonhos, como o olhar os conhece! Talvez, o olhar seja um sonho, no meio do nada! O nada intervém no sonho, quantas vezes preciso sonhar, para que o nada apareça sem minha ausência. O que falta na ausência para ela ser feliz?! Por que ninguém acredita que a ausência é a razão de tudo? O tempo diminuiu a ausência em palavras. Cada vez que olho para a vida, vejo que nada preciso dizer: minha fala é este contemplar. Ninguém devolve o nada a ele mesmo! É fácil morrer, o difícil é aceitar ser nada! O nada substituiu a vida: é o mesmo respirar! Esperança sem vida!

Quem sou eu ao existir?!

Tudo é vida, real. A vida substitui o viver, a morte me dá autoestima, que dias piores virão, para que eu suporte a dor! Não sei como é o meu amor, meu abraço, mas o outro a me abraçar faz eu perder a vontade de me abraçar. É da lembrança do amor que surgem outras lembranças, que fazem esquecer o amor, como se pudesse lembrá-lo. O que mantém a lembrança é o esquecimento de ser, que pertence às coisas, jamais ao ser! A única lembrança eterna é o meu ser! Falta na lembrança o meu ser! O ser se inspira na vida, a vida no ser, e a inspiração não se inspira em nada! A inspiração deixa-me sem meu ser, de volta a mim! A lembrança é a falta de significado de ser, por isto o ser se inspira: por buscar seu significado! Para existir, não basta ser! A leveza do ser é sua falta de significar algo nele mesmo! A liberdade é o único significado de ser, mesmo assim, ele não é livre! A subjetividade do ser é a concretude da alma! Na alma, tudo falta no ser! A alma é o ser, embora ele saiba disso, se entrega à sua alma como se fosse outra alma, noutro ser! O ser não vive na alma, mas foi a alma que conseguiu ser. As almas foram tão bem escondidas dentro do ser, que o ser pensa não ter alma, mas não a procurei em mim! Mas, não me sinto alma, me sinto sua moldura, seu descaminho, onde, para caminhar, é preciso ter alma, é preciso viver!

Como o ser se torna minha essência?!

Nada há de destruir o espírito, como foi destruído o ser pela alma, sem nenhum pensar em mim, nem mesmo que destrua o indestrutível de mim, nada pode faltar na destruição, nada ama o que foi destruído. Para uns, a vida é insólita, e o saudável é morrer sem a descarga emotiva da vida. Talvez, a alma saiba mais da vida que o meu ser! Eu dei meu amor à alma morta, mas, antes de a alma morrer, já não existia alma no meu ser, mesmo ela viva, latente em mim. A morte é mais vida do que a vida. O que passou passou, jamais será um sentir de vida, mesmo que aconteça agora, está desconectado com a vida. A vida parece ser o que não é. A alma sem a alma vive menos do que o ser. A essência é um pretexto para não viver, a vida torna o aspecto de ser banal e a essência inexistente, como se a vida pudesse ser essa existência. Sempre resta algo da vida para o ser não ser mais. Qual mundo é o que vivemos? Vivemos ou acabamos com a vida? A alma pode fazer de mim o que não sou?! Ou serei sempre apenas um ser sem alma? A distância de mim não me faz alma, onde preciso ser alma. Mas por que necessito ser alma? Necessito ser alma apenas para não ser eu?! O que é ser alma? É conduzir a realidade à falta de ser? Deixar a falta de ser cuidar de mim? Quem cuida da alma?! Renascer é alma que me modifica por dentro de mim, que também é dentro da alma. É melhor que seja o que a alma quiser, não o que a vida quiser. Que Deus somente queira me ver feliz, mesmo sem ser do lado dele. Não existe a morte para mim, se Deus é vida, amor! Que a chama do olhar não diminua a vida. A alma não deixa seu estado de espírito, que é sonhar, apenas para servir ao ser. Sendo a alma morta ou viva, ela me faz viver e me distanciar da poesia que era apenas um instante, a alma é eternidade. Para deixar a alma, não preciso deixar de ser. O ser não depende da alma, a poesia da alma é eterna no amor do ser!

A exclusão da alma é a falta de um adeus

O despertar da alma é solitário! Meu corpo não vive como vive o meu ser! Meu ser vive mais do que o corpo, do que a alma, do que a vida! Alma não é vitória, não é derrota, alma é viver! A alma não escolhe viver ou morrer, o tempo da alma é simbólico, a alma não ajuda a viver, alma é vida! Apenas a vida não me ajuda a viver, a alma se exclui sozinha de si mesma. A alma não entra dentro de mim, eu sou a alma que viveste sem mim! Vida, queria que me abraçasses tão forte, que eu não sentisse minha inconsciência em ti!

A morte é um milagre de Deus

A morte é o milagre de Deus, inacessível, como a sombra da minha ausência! Não presencio o milagre de morrer, nem pela ausência, nem pela presença. A morte não pertence ao ser, pertence a Deus. Apenas Deus morre concretamente no que é, sem sentir saudades da vida: é um milagre imperceptível, como respirar, mas não é o respirar vital, é o respirar da alma em mim, como sendo o começo de tudo, e a concretização do amor, seja ele divino ou humano, é a mesma alma que eles possuem, como um resto de sol, que ficou guardado no amor! Se Deus me desse a morte como ela veio ao mundo, como alma, eu seria feliz!

A ocultação do não ser

Já é tempo de diferenciar entre a obscuridade da vida e a minha alma! Não dá pra me esconder de mim, então eu fingindo que apareço, ao menos para me esconder! É mais fácil esconder o ser de si mesmo do que esconder o não ser do não ser! Se o tempo disse algo de meu, não foi amor, escutei pelas sombras do meu pensamento! Nem a minha sombra está inteira, deixou enfraquecido o sol das circunstâncias, fez-me luz da minha sombra! Sei o que não escutei, não escutei pois já existe em mim! Não existe como existência, mas existe como fim! Fim do que não aconteceu, e jamais acontecerá, nem mesmo pelo fim. A falta do único começo é o fim. O fim é o único começo, a única essência do ser! Os beijos sufocam a alma, renúncia do prazer! Meus beijos dou a mim mesma, como se escutasse minha voz na poesia! Poesia não é voz, é sentimento! A saudade desse sentir sou eu! Apenas em pensar nesse sentir, me sinto mulher, como o amanhecer da poesia! Apenas o abraço da poesia me tira da solidão! Poesia é a certeza de retornar! Deixa o vento me levar como poeira do teu amor, onde floresce a vida: de poeira! Poeira, que me faz respirar por ti, como se não pudesse respirar sem ti, vida!

O que se perde ao amar

O nada na solidão do tudo em mim me faz amar sem amar. A solidão é se contentar com qualquer amor, até mesmo imperceptível! Será que o que não se percebe existe? Existir é apenas perceber? O que não existe vive! Nada vai mudar o imperceptível, ele é como a chuva que cai sem pensar nas gotas de água, que precisa ter para haver chuva. A chuva é imperceptibilidade da vida, é a falta de acesso ao viver!

É pela falta de realidade que sei o que é viver! Deus, tenha misericórdia da minha alma, que não consegue ser alma, mas consegue amar, ser feliz, como se meu corpo não tivesse sombra. A sombra é onde meu corpo se esconde. Se a sombra fosse meu corpo, seria mais corpo do que o meu corpo?! Formar a vida não é criar a vida. Para criar a vida, tenho que renunciar meu sentimento de viver, que não é o mesmo que viver! A solidão aconchega a alma, num amor infinito, por causa do seu fim! O fim é infinito, está nos meus sonhos, na vida, em mim, no meu amor! Se a ausência é a única realidade, amo a ausência, me preencho com ela. O que se perde em amar é cheio de ausências, respiro e engulo a seco minha ausência, que é o silenciar depois de amar!

Mas o depois de amar também é ausência! Nascer é uma ausência que se perde, como se fosse infinito! Por isso, deixo o nascer morrer em mim, antes mesmo de eu nascer! Nada precisa nascer nem morrer, preciso apenas ficar só, no que sou, ao tomar conta dos meus pensamentos, como, se um dia, eu fosse nascer, pelo amor do meu pensamento. Sem o amor do meu pensamento, não sei amar, estou incompleta, mesmo plena de amor. Meu amor não me trará minha poesia para mim, ela pertence à minha ausência!

Talvez, não tenha ausência na ausência. Talvez, não estou ausente, e, sim, feliz por ser eu, que criei a poesia em mim. Nem mesmo a ausência me impediu de criar. Poesia, não existo, sou a vida da poesia, ela me sente nascer o tempo todo, de dor, de alegrias! Mesmo que eu nunca nasça, exista, sou a presença eterna da poesia! Não precisamos nascer, existir, temos uma à outra, onde, agora, existe amor!

Vida abismal

Minha vida não é a última vida em mim. Nessa vida abismal, a fala muda é o resto do abismo como sol, sendo o comunicar eterno de morrer que vive em mim. A falta de dizer não é a eternidade do silêncio, é a eternidade entre mim e eu. A eternidade é o horizonte da fala no fim do abismo. Vi o céu na minha dor, é como me decompor em céu, apenas em não sofrer a dor não tem alma, mas tem o céu à sua disposição. Não adianta não sofrer, pois eu ainda sou eu! A vida não é real.

Sua realidade veio do infinito, que somos nós, mais do que o infinito, necessito amor. Se o infinito é amado, e eu não, o que ainda é amor? É apenas o infinito alcançável de ser que não é acessível quando ama. Eu vivi o amor, sem o infinito, vivi o amor pelas pessoas, que é mais infinito ainda: é como ter olhos, alma, ser, espírito, para amar. Deus é amor, se o aceitamos em nosso amor, mas meu amor não pode existir. Sem Deus na alma, nada pertence a nada, foi longe deste pertencer que encontrei Deus.

O nada pertencer é tão forte que vejo a alma de Deus. Os abraços esquecidos no amor são o livre chorar de Deus, abençoando a minha solidão, a separação da alma e do corpo, é a vida por mim, nada faz falta à solidão, ela apenas necessita de amor como eu! Pensava ter teus sonhos em mim, mas é como se fosse a última estrela do céu. Eu não vou mudar, nem mesmo que a vida se torne morte. Falta nos sonhos o meu ser, o nada não significa nada, é o que falta nos meus sonhos, para eles serem felizes: fingir que nada existe, como o sonho não existe. Eu confio no nada, mais do que em mim. Como posso ser nada até para o nada?

As lembranças permanecem no nada do ser, tudo que chora consola o tempo, por ele não partir, o consolo, às vezes, é partir na ausência. O silêncio não tem culpa da minha ausência, ela podia existir em palavras. Depende de mim dar um sentido a essa ausência, ela pode ser a poesia de amanhã, mas agora quero ser presença, ao menos nas minhas poesias, que, mesmo ausente, consigo sentir a poesia, e criar em cada poesia. A minha vida, por mais ausente que seja, é feliz. Como a poesia tem alma, a ausência como permanência da poesia no ser, tudo é eterno. Na alma, nada é eterno, pois é sem fim. Me desdobro tentando compreender por que a poesia tem um fim, mas a poesia continua dentro de mim, como se fosse você em mim.

O tempo se foi, a vida se foi, continuo a sentir a poesia na minha dor, na morte, na vida que se foi sem partir! O abismo existe mesmo, eu me renuncio, mas continuo a amar, seja ou não no abismo de mim. Apenas o amor substitui toda realidade, até a realidade da falta de amor que não perde o valor da poesia, apenas fica triste em eu sonhar, ser, existir. Consigo ser apenas poesia, pois tudo piora, ninguém mais suporta ser só, nem pela poesia, nem pela vida, nem pela morte, enfim, eu!

Pelo relógio do amor

Pelo relógio do amor, sempre é hora de amar! Deixo tudo para amar! As horas perdem o sentido perto do amor! Tudo que é leve é pesado na alma, como se o tempo tivesse partido, na leveza de um único instante perdido, que suaviza a vida! Enfim, posso morrer! Morrer como um instante perdido de amor!

Saindo de mim (Para Pai)

Saindo ao voltar, saindo de dentro de mim para a vida. Saindo de mim, faço parte do outro, não agora, não depois, mas sempre! É nesse sempre mais o ser. O que podia ser excesso pode ser amor! Meu ser é possível sem sair de mim, mesmo assim, o sinto sair de mim, como se fosse a vida que eu expulsei de mim, como sendo o único sol escondido na multidão do céu! Há como deixar o sol pelo céu.

Deixar o sol no céu é esquecer o sol em sua luz! A ausência do céu desperta o sol para a vida! A ausência é a falta do sol. O que posso fazer a estrela retorna, como sendo depois do meu sonho, o sonhar! Estou me dividindo em estrelas do céu. Não tenho luz, mas posso oferecer minha poesia na luz do teu amor, a iluminá-la! Ninguém nunca amou o permanecer do teu amor, tanto quanto eu! Céu, me faça de mim mesma, me reconstrua, como se o céu faltasse em minha alma. Meu amor, estrela sem céu, onde danço com a vida, o que não vivi e não viverei jamais! As estrelas acendem a dança da vida, me deixam paralisada, numa escuridão profunda, onde sei que tenho um corpo: não o sinto: como uma estrela a desabar no nada do mundo, até que o mundo seja uma estrela!

O amor seja uma estrela a brilhar no céu, onde as melhores coisas acontecem, por eu me tornar uma estrela tão pequena, que me deixo ser essa estrela, explorar céus desconhecidos, esquecer o que vivi de mim. Minha única lembrança, minha única alegria, é ser apenas luz, sem essências, verdades, mentiras, dor. O céu não me abandona como estrela, me abandona como ser! O meu ser salvou a estrela, ela não me salvou, me incorporou, até ser eu! Eu, por mim, sem me ter! Onde o tempo é uma escolha, um momento, em que a vida é esquecida, em vez de nós! Enfim, lembro de mim sem a vida, sem o vazio de existir! Somente queria que me visse ainda como uma estrela, mesmo não sendo mais essa estrela, para ser o universo do amor, que enfrenta a claridade com a luz! Luz que afaga a escuridão, a abraça, a envolve, para que eu morra em paz, nos braços do amor! Por ti, amor, eu morro.